Olhando as crianças de hoje, recordo com alguma nostalgia a minha infância.
Filha única de família emigrante do norte, fui criada entre mimos e "pontapés".
Meu pai de profissão Padeiro trabalhava toda a noite, minha mãe analfabeta, rude, marcada pela vida,( de ter ficado órfã de mãe muito cedo cerca dos 10 anos e ter mais 6 irmãos um dos quais ainda de colo e não ter outro remédio senão ajudar em casa,) o único emprego que conseguiu foi o de" Mulher a Dias " como se dizia na altura.
Vivia-mos todos, naquilo que consideravam lar, uma barraca construída pelo meu pai algures para os lados da Ajuda,hoje penso que mesmo assim deviam ser tempos muito difíceis, pois o nosso lar era partilhado por 1 casal e 2 irmãos a quem davam o nome de "hóspedes".
Enquanto os meus pais viviam para o trabalho eu fui crescendo,mimos recebia de uma patroa de minha mãe que praticamente me adoptou até aos 10 anos "a minha mamã" era assim que eu a tratava ,depois ela partiu para ajudar os netos em Setúbal e nunca mais a vi...tanto que me lembrei e ainda lembro da minha mamã.
Toda a minha vida aprendi a fazer dinheiro fácil,limpava uns jardins,umas gaiolas de passarinhos,ou limpava os amarelos das portas e das campainhas e no fim lá caiam umas moedinhas para o meu mealheiro,era com esse dinheiro que comprava um dicionário ou uma prenda para a minha mãe ,pois eu fazia sempre um postal e embora eu lhe lesse ,via que pouco ligava,já o meu pai esboçava um sorriso e se era do dia do pai ponha na carteira.
Lembro-me muito bem que pelo Natal não havia prendas,nem ligava sequer,pois os meus tios e outros que chegavam traziam ou um bolo rei ,ou broas,pão de lo e a minha mãe fazia as rabanadas,o meu pinheiro vinha para casa dias antes ,eu e o meu pai íamos à serra e trazíamos emprestado um galho pequeno de um pinheiro,com papel prata que apanhava do chão (dos chocolates ou do tabaco) fazia bolinhas e com agulha e linha fazia a argola para prender ao ramo, depois com um bocadinho de algodão ia espalhando dando ideia de neve e a farinha fazia o resto.
N a escola era uma infeliz se não soubesse algo na "ponta da língua" era posta de joelhos virada para a parede a estudar a matéria..
Quando hoje vejo as crianças a tratarem mal colegas e professores gratuitamente,penso como era injusto para nós tanta disciplina,muita coisa mudou no ensino e concordo mas por favor pais"nem 8 nem 80".